sábado, 13 de julho de 2013

USO DO "SE" - REDAÇÃO DO ENEM TRABALHANDO A COMPETÊNCIA I (AULA 8)

1. INTRODUÇÃO: O que complica com relação ao "se" não é nem tanto o o seu uso; mas sua classificação. Com exceção do erro de escrita onde comumente é confundido com o "si", pronome tônico também de terceira pessoa tanto do singular quanto do plural, a maior dificuldade é saber quando se trata de conjunção,  pronome oblíquo, pronome reflexivo, partícula apassivadora ou índice de indeterminação do sujeito. Essa partículazinha pode ser tudo isso.

1.1. Se ou Si: Erro bastante comum em redações escolares não só de alunos do ensino fundamental, como também do ensino médio, é escrever si no lugar de se; ou o contrário, escrever se quando deveria se escrever si. O primeiro passo então, é diferenciar essas duas partículas, sendo que os dois são promomes pessoais oblíquos. Veja abaixo a tabela desses pronomes.

 TABELA DOS PRONOMES PESSOAIS
NÚMERO
PESSOA
PRONOMES PESSOAIS RETOS
PRONOMES PESSOAIS OBLÍQUOS
Átonos
Tônicos

SINGULAR
1ª PESSOA
Eu
me
Mim, comigo
2ª PESSOA
Tu
Te
Ti, contigo
3ª PESSOA
Ele,ela
o, a, lhe, se
Ele, ela, si, consigo

PLURAL
1ª PESSOA
Nós
Nos
Nós, conosco
2ª PESSOA
Vós
Vos
Vós, convosco
3ª PESSOA
Eles, Elas
Os, as, lhes, se
Eles, elas, si, consigo
*RETOS são os pronomes que funcionam como sujeito, OBLÍQUOS são os que funcionam como complementos verbais (objeto direto ou indireto)

O pronome si é tônico, vem sempre precedido de uma preposição, é sempre reflexivo; isto é, o sujeito é o objeto da própria ação. Seu uso é bem mais restrito do que o pronome se. Veja alguns exemplos (A preposição que o antecede destacamos em negrito, o pronome em vermelho).
  • "_ Que é que eu vou fazer, meu Deus?
            _ Importa não... _ disse ela, e o puxou para si". (Gabriela Cravo e Canela, Jorge Amado)

  • "Se fugirmos de preocupações, temos também que abandonar a virtude que, necessariamente, envlve-se com cuidados  e repele de si as coisas que lhe são contrárias". (A Amizade, Cícero)
  • "Desprende de si mesmo
           caleja a alma em desesperança" (Habitação Provisória, Airton Souza)

  • Olhos tão inocentes e que trazem dentro de si, por isso mesmo, toda a sabedoria das coisas que nascem completas". (Amor à primeira vista, Rachel de Queiroz)

  • "Depois disso, não sei como a rainha se matou, porque Édipo surgiu subitamente, aos gritos, pelo que não era possível ver o mal que ela a si mesma infligia." (Édipo Rei, Sófocles)
Feito esse entendimento sobre o pronome "si", vamos passar a analisar os casos em que o monossílabo átono "se" ocorre.
2. OCORRÊNCIAS DO SE: é bastante usada tanto na modalidade oral quanto na escrita da língua. Recebendo, conforme seu uso as seguintes classificações:
a) Conjunção Condicional: quando iniciar uma oração que indica a condição para que o fato expresso em outra oração aconteça. Nesse caso o se poderá ser substituido por outra condicional (caso, desde que, contanto que, etc).
    Exemplo: Se você estudar bastante, conseguirá a nota que deseja.
                   Ele chegará à noite se não acontecer algum imprevisto. 

b) Conjunção Integrante: iniciam uma oração subordinada substantiva quando se quer expressar uma hipótese ou possibilidade. Nesse caso não é possível substituir o "se" por uma condicional.
     Exmplo: Ela queria saber se você não vem à festa.
                                             oração subordinada substantiva
                                                                        objetiva direta
c) Índice de Indeterminação do Sujeito: quando o sujeito de uma oração não vem expresso nela, ele pode estar oculto ou indeterminado. 
  • Sujeito Oculto: não vem na oração, mas é possível identificá-lo pela desinência do verbo, por isso é também chamado de sujeito desinencial.  Exemplo: Viajaremos para Brasilia amanhã. ("Nós" é o sujeito)/ Comprou um carro novo. ("Ele" é o sujeito).
  • Sujeito Indeterminado: não vem expresso na oração, nem é possível identificá-lo, ou não se quer identificá-lo. Há duas formas de se fazer isso acontecer.
   - Com o verbo na terceira pessoa do plural: Roubaram meu livro que estava em cima da mesa. (Não se sabe quem roubou o livro)


Telefonaram para você. (Talvez não se queira revelar quem telefonou).
       _ Usando o "se" como índice de indeterminação do sujeito: Isso somente acontece quando o verbo da oração a qual se quer indeterminar o sujeito for um verbo intransitivo ou transitivo indireto e estiver na 3ª pessoa do singular. Veja nos exemplos.

Falou de você durante a festa. 
( O sujeito está oculto. [Ele] falou de você durante a festa.)

Falou-se de você durante a festa. (Não se sabe quem falou ou não se quer dizer). Nesse exemplo, o se é que está deixando o sujeito indeterminado, por isso é chamado de Índice de Indeterminação do Sujeito.

RESUMINDO A REGRA:
Sujeito não expresso + verbo na 3ª pessoa do plural = sujeito indeterminado
Sujeito não expresso + verbo na 3ª pessoa do singular + se = sujeito indeterminado

d) Partícula Apassivadora: quando se tem uma oração com a seguinte estrutura: sujeito/ação, o sujeito pode estar praticando ou sofrendo a ação. Essa relação é determinada pelo que chamamos de Voz Verbal. Veja: 
  • Voz Ativa: o sujeito pratica a ação. 
  • Voz Passiva: o sujeito sofre a ação praticada pelo Agente da Passiva.
  • Voz Reflexiva: o sujeito sofre a ação praticada por ele mesmo.
   A Voz Passiva é a que nos interessa para esse tópico. Essa voz pode acontecer de dois modos distintos:
  • Voz Passiva Analítica: nesse caso a oração terá a seguinte estrutura: sujeito paciente +  verbo ser (auxiliar) + verbo principal no particípio + agente da passiva
         Veja: O carro foi vendido pela empresa.
                             verbo  + Verbo
                                      auxiliar   Pincipal  
  • Voz Passiva Sintética (resumida, lembre-se que síntese é resumo): é nesse tipo que o "se" aparece como partícula apassivadora. Veja:
          Vendeu uma casa. (Temos um sujeito oculto "ele". [Ele] vendeu uma casa.) Quando acrescentamos o  "se" a essa frase, o sujeito passa a ser "uma casa". 
  Veja: Vendeu-se uma casa.
                       (o sujeito "casa" está sofrendo a ação de ser vendida)


OBSERVAÇÃO: como diferenciar a Voz Passiva Sintética do Sujeito Indeterminado?
  1. O "se" como índice de indeterminação do sujeito somente acontece com um verbo intransitivo ou transitivo indireto e estiver na 3ª pessoa do singular.
  2. O "se" como partícula apassivadora acontece quando o verbo for transitivo direto ou de dupla transitividade (direto e indireto).
  3. Quando for passiva sintética pode ser transformada em passiva analítica. (Esse é o principal teste para saber quando é sujeito indeterminda ou sujeito passivo). Veja alguns exemplos. 
 Lembre-se que o pronome "se" é de 3ª pessoa do singular ou plural, por isso os exemplos são sempre nessas pessoas.
PASSIVA SINTÉTICA
PASSIVA ANALÍTICA
Vendeu-se uma casa.
Uma casa foi  vendida.
Alugam-se quartos.
Quartos são alugados.
Discute-se sobre a homofobia.
A homofobia é discutida.
Perdeu-se o amor pelos filhos.
O amor pelos filhos foi perdido.

Quando o "se" for índice de indeterminação do sujeito, esse processo não é possível.

e) Pronome Reflexivo: ocorre nas orações em que o sujeito ao mesmo tempo em que é agente é paciente, ou seja, pratica e sofre a ação verbal. Quando isso acontece, o "se" equivale a "a si mesmo(s)".
Exemplos:
O garoto feriu-se com a faca. (Feriu a si mesmo com a faca).
Todos os alunos dessa turama se inscreveram para o Enem.
Ele se vestia de mulher para apresentar a peça.

Atividades

Analise a estrofe abaixa retirada de um poema de Gonçalves Dias para responder as questões.

Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve e no que vê prazer alcança!

01. No verso "Se se morre de amor! _ Não, não se morre," na primeira ocorrência, podemos classificar o "se" como:
a) Particula apassivadora porqueestá tornando o sujeito paciente de sua própria ação.
b) Conjunção condicional porque está levantando uma possibilidade de "se morrer de amor".
c) Índice de Indeterminação do sujeito porque está indeterminando o sujeito.
d) Pronome reflexivo porque o sujeito está praticando e sofrendo a ação.
e) Conjunção integrante porque está iniciando uma oração subordinada substantiva.
02) O segundo "se", "se morre de amor!" é um índice de indeterminação do sujeito? Explique a sua resposta.


03. Na frase abaixo colhida da obra O RETRATO 2 - O  tempo e o vento, obra de Érico Veríssimo, foi usado o "se" com a intenção de: 
"Numa das páginas da revista estampava-se o retrato da aviadora Mme Laroch que, na festa aviatória de Champagne, fora ferida num acidente".
a) Sintetizar a voz passiva.
b) Indicar o sujeito reflexivo.
c) Indeterminar o sujeito.
d) Indicar uma condição.
e) Iniciar uma oração substantiva.

04. "Dai a pouco chegou à casa de Vilela. apeou-se, empurou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela." (A cartomante - Machado de Assis)

Marque abaixo a opção que classifica corretamente o "se" nas duas ocorrências desse trecho.

a) Pronome Reflexivo/ pronome reflexivo.
b) Pronome Reflexivo/particula apassivadora.
c) Índice de indeterminação do sujeito/ partícula apassivadora.
d) Partícula apassivadora/ Índice de indeterminação do sujeito.
e) Partícula apassivadora/ pronome reflexivo.



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