quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

BARROCO POEMAS DE GREGÓRIO DE MATOS GUERRA COBRADOS NO PRISE/PROSEL



POEMAS LÍRICOS



Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.

Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.

Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.



PEQUEI, SENHOR....

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
de vossa alta clemência me despido;
porque quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma orelha perdida e já cobrada,
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,

eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha a vossa glória.







Ó TU MEU AMOR TRASLADO...
Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.

Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo, que exalou, morro abrasado.

Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.

Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.



EM HORROR DESTA LMUDA SOLEDADE

Queyxa-se de que nunca faltem penas para a vida,
faltando a vida para as mesmas penas.

Em o horror desta muda soledade,
Onde voando os ares a porfia
Apenas solta a luz a aurora fria,
Quando a prende da noite a escuridade.

Ah cruel apreensão de uma saudade,
De uma falsa esperança fantasia,
Que faz que de um momento passe o dia,
E que de um dia passe à eternidade!

São da dor os espaços sem medida,
E a medida das horas tão pequena,
Que não sei, como a dor é tão crescida.

Mas é troca cruel, que o fado ordena,
Porque a pena me cresça para a vida,
Quando a vida me falta para a pena.

POEMAS SATÍRICOS

FREI ANTÃO DE SOUSA MENESES

Senhor Antão de Sousa de Meneses,
Quem sobe a alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.

A fortunilha autora de entremezes
Transpõe em burro o Herói, que indigno cresce
Desanda a roda, e logo o homem desce,
Que é discreta a fortuna em seus reveses.

Homem (sei eu) que foi Vossenhoria,
Quando o pisava da fortuna a Roda,
Burro foi ao subir tão alto clima.
Pois vá descendo do alto, onde jazia,
Verá, quanto melhor se lhe acomoda
Ser home em baixo, do que burro em cima.



QUE ME QUER O BRASIL

Que me quer o Brasil, que me persegue?

Que me querem pasguates, que me invejam?

Não vêem, que os entendidos me cortejam,

E que os Nobres, é gente que me segue?



Com o seu ódio a canalha, que consegue?

Com sua inveja os néscios que motejam?

Se quando os néscios por meu mal mourejam,

Fazem os sábios, que a meu mal me entregue.



Isto posto, ignorantes, e canalha

Se ficam por canalha, e ignorantes

No rol das bostas a roerem palha.



E se os senhores nobres, e elegantes

Não querem que o soneto vá de valha,

Não vá, que tem terríveis consoantes.







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